A
OCUPAÇÃO DE ESCOLAS E O DESPERTAR POLÍTICO
Foi quando eu tinha uns 15
anos de idade que participei de minha primeira manifestação pública. O alvo dos
protestos era a secretária de educação Neuza Canabarro (PDT-RS). Motivo: o “calendário
rotativo”, um projeto de alteração nas datas de início e término do ano
letivo. Proposta
que deixou alunos e professores muito revoltados.
Naquela época eu cursava o
ensino médio. Lembro que eu e meus colegas íamos para as manifestações muito
mais preocupados em farrear e nos divertir do que em nos manifestarmos de fato.
E não éramos só nós que agíamos assim. A grande maioria dos manifestantes estava
lá para namorar, beber e se divertir.
Contudo, mesmo que
inicialmente eu não tivesse consciência do que estava fazendo, esta minha
primeira experiência, tornou-se o meu despertamento político.
Foi durante aquelas
manifestações que pela primeira vez entrei em contato com algum tipo de
resistência e engajamento. Foi durante aquele movimento de protestos que me
senti, pela primeira vez, parte de algo maior do que eu mesmo, me senti como
parte da história que estava acontecendo naqueles dias.
Contribuiu para isso o fato do
governador Alceu Colares, que era esposo da secretária da educação, ter engavetado o projeto de mudança no calendário. Isso representou uma grande vitória para mim e meus colegas. Nos sentíamos poderosos e tínhamos mais um
motivo para continuarmos farreando.
Pronto, estava feito. Eu me
tornara um cidadão. Me tornara um ser pensante e interessado em política. Em
consequência, alguns anos depois, eu ingressaria na faculdade de História onde
me tornaria historiador e professor.
Aquela foi a primeira de
muitas manifestações, passeatas e greves das quais eu participaria.
Hoje, maio de 2016, diversas
escolas públicas no Brasil estão ocupadas por estudantes insatisfeitos com as
condições da educação no país.
Os motivos são vários, a
começar pelas péssimas condições em que algumas escolas se encontram, passando
pelos ridículos valores investidos em educação e cultura, até o baixo salário dos
professores e profissionais da educação. Para agravar o cenário de
insatisfação, o presidente interino Michel Temer extinguiu o Ministério da
Cultura.
Apesar da maioria das
pessoas concordarem com as ocupações, muitas outras estão contra estas manifestações.
Mas até aí tudo bem, porém para minha surpresa, alguns professores também estão se
posicionando contra estes jovens. Os argumentos são de que se tratam de arruaceiros,
de maus alunos, de que não querem nada com nada e que estão lá para matar aula
e farrear.
Acredito que estes
professores não estejam entendendo o que está acontecendo.
Pessoalmente, como não poderia ser
diferente, eu me posiciono favorável às ocupações. Como professor de
história entendo que o que está ocorrendo é uma organização incomum para esta
faixa de idade em que a maioria dos protestantes estão. É claro que recebem auxílio e orientação externa (UGES, UNE, etc.), mas mesmo assim é louvável que estejam se organizando de
forma tão impactante. Tanto que já chamaram a atenção da mídia internacional.
Entretanto, também entendo que se
deve ter muito cuidado com o que está ocorrendo dentro destas escolas. Afinal,
a maioria dos jovens envolvidos não possui maturidade para lidar com a
liberdade de se auto gerenciarem dentro destes espaços.
Contudo, é inegável que
estas ocupações representam um despertar político. Sendo resultado de uma revolta
nacional contra a sujeira da qual nosso país está atolado.
Por esse motivo não podemos
condenar estes jovens por lutarem por melhores condições de educação e cultura no
país. Afinal, se alguém está certo, são eles que estão dispostos a lutar e não aqueles
que reclamam, mas que não tiram a bunda do sofá.
J.Mercúrio
Professor, mas sempre
aprendendo com seus alunos.