sexta-feira, 27 de maio de 2016

A Ocupação de Escolas e o Despertar Político


A OCUPAÇÃO DE ESCOLAS E O DESPERTAR POLÍTICO

Foi quando eu tinha uns 15 anos de idade que participei de minha primeira manifestação pública. O alvo dos protestos era a secretária de educação Neuza Canabarro (PDT-RS). Motivo: o “calendário rotativo”, um projeto de alteração nas datas de início e término do ano letivo. Proposta que deixou alunos e professores muito revoltados.

Naquela época eu cursava o ensino médio. Lembro que eu e meus colegas íamos para as manifestações muito mais preocupados em farrear e nos divertir do que em nos manifestarmos de fato. E não éramos só nós que agíamos assim. A grande maioria dos manifestantes estava lá para namorar, beber e se divertir.

Contudo, mesmo que inicialmente eu não tivesse consciência do que estava fazendo, esta minha primeira experiência, tornou-se o meu despertamento político.

Foi durante aquelas manifestações que pela primeira vez entrei em contato com algum tipo de resistência e engajamento. Foi durante aquele movimento de protestos que me senti, pela primeira vez, parte de algo maior do que eu mesmo, me senti como parte da história que estava acontecendo naqueles dias.

Contribuiu para isso o fato do governador Alceu Colares, que era esposo da secretária da educação, ter engavetado o projeto de mudança no calendário. Isso representou uma grande vitória para mim e meus colegas. Nos sentíamos poderosos e tínhamos mais um motivo para continuarmos farreando.

Pronto, estava feito. Eu me tornara um cidadão. Me tornara um ser pensante e interessado em política. Em consequência, alguns anos depois, eu ingressaria na faculdade de História onde me tornaria historiador e professor.

Aquela foi a primeira de muitas manifestações, passeatas e greves das quais eu participaria.

Hoje, maio de 2016, diversas escolas públicas no Brasil estão ocupadas por estudantes insatisfeitos com as condições da educação no país.

Os motivos são vários, a começar pelas péssimas condições em que algumas escolas se encontram, passando pelos ridículos valores investidos em educação e cultura, até o baixo salário dos professores e profissionais da educação. Para agravar o cenário de insatisfação, o presidente interino Michel Temer extinguiu o Ministério da Cultura.

Apesar da maioria das pessoas concordarem com as ocupações, muitas outras estão contra estas manifestações. Mas até aí tudo bem, porém para minha surpresa, alguns professores também estão se posicionando contra estes jovens. Os argumentos são de que se tratam de arruaceiros, de maus alunos, de que não querem nada com nada e que estão lá para matar aula e farrear.

Acredito que estes professores não estejam entendendo o que está acontecendo.

Pessoalmente, como não poderia ser diferente, eu me posiciono favorável às ocupações. Como professor de história entendo que o que está ocorrendo é uma organização incomum para esta faixa de idade em que a maioria dos protestantes estão. É claro que recebem auxílio e orientação externa (UGES, UNE, etc.), mas mesmo assim é louvável que estejam se organizando de forma tão impactante. Tanto que já chamaram a atenção da mídia internacional.

Entretanto, também entendo que se deve ter muito cuidado com o que está ocorrendo dentro destas escolas. Afinal, a maioria dos jovens envolvidos não possui maturidade para lidar com a liberdade de se auto gerenciarem dentro destes espaços.

Contudo, é inegável que estas ocupações representam um despertar político. Sendo resultado de uma revolta nacional contra a sujeira da qual nosso país está atolado.

Por esse motivo não podemos condenar estes jovens por lutarem por melhores condições de educação e cultura no país. Afinal, se alguém está certo, são eles que estão dispostos a lutar e não aqueles que reclamam, mas que não tiram a bunda do sofá.

J.Mercúrio
Professor, mas sempre aprendendo com seus alunos.

sábado, 7 de maio de 2016

Leicester City e o Campeonato Brasileiro: quantos clubes grandes sobreviverão no Brasil?


LEICESTER CITY E O CAMPEONATO BRASILEIRO: QUANTOS CLUBES GRANDES SOBREVIVERÃO NO BRASIL?

Nesta semana o Leicester City tornou-se campeão inglês de futebol. Um feito memorável que acredito logo-logo os ingleses tornarão filme. O grande feito do pequeno Leicester foi desbancar milionários como Chelsea, Arsenal, Liverpool e os dois Manchester’s (United e City), algo raríssimo de acontecer nas terras da rainha.

No início da temporada, os analistas esportivos ingleses apontavam seus favoritos e o Leicester estava lá... entre os candidatos ao rebaixamento. Sem dúvida um grande feito para este pequeno clube.

Enquanto isso, o campeonato brasileiro de futebol está prestes a iniciar. E, semelhantemente ao que aconteceu na Inglaterra, muitos analistas esportivos já estão fazendo seus prognósticos. Já apontam quem são os favoritos ao título, à libertadores e ao rebaixamento.

Particularmente, eu acho bastante estimulante imaginar quem são os favoritos. Principalmente no Brasileirão, que ao contrário do caso inglês, possui pelo menos dez times com chances de título.

Entretanto, acredito que o futuro deste equilíbrio está comprometido.
Afinal, para questões que envolvam a lucratividade, um torneio onde os prognósticos sejam tão imprevisíveis como o Campeonato Brasileiro, tornam a transmissão de partidas e a divisão dos patrocínios questões delicadas. Por esse motivo, como no caso inglês, quanto menos times tiverem condições de serem campeões, melhor será de administrar e repartir os lucros.

Assim, Rede Globo, CBF e seus parceiros (anunciantes e patrocinadores) já decidiram que apenas cinco ou no máximo seis clubes podem competir pelo título nacional.

Segundo os defensores deste modelo, o Campeonato Brasileiro de Futebol se tornaria mais atrativo para o mercado internacional. Assim, as cotas de TV para mercados como a China e o Japão seriam ampliadas, já que a popularização de poucos clubes nestes mercados facilitaria sua audiência. Ou seja, para ser lucrativo o Brasileirão não poderia ter tantos clubes nivelados.

Contudo, que critérios seriam adotados para a seleção dos tais cinco ou seis clubes que continuariam como os grandes do futebol brasileiro?

Infelizmente esta seleção já começou há algum tempo. E não se trata de uma seleção natural, isto é, definida pela força ou os méritos de um clube (títulos, importância histórica, sócios ou patrimônio).

A seleção “não natural” está sendo realizada de forma arbitrária pelos “donos” do futebol brasileiro, isto é, Rede Globo, CBF e parceiros.

E isso ocorre quando os “donos” do futebol brasileiro definem quem são os clubes que recebem as maiores cotas. Na prática, estão definindo o grupo dos clubes que desejam como os grandes do futebol brasileiro.

Afinal, como um clube que recebe da TV Globo um terço do valor que ganham Corinthians e Flamengo poderá ter chance de título na comparação com esses dois? E a tendência é que esta diferença se amplie nos próximos anos.

Entretanto, não há nada de novo neste modelo, já que foi implantado em outros países, como a Inglaterra, onde o título do Leicester foge completamente da regra. E o Brasil caminha nesta mesma direção.

Será que seu time do coração estará entre os grandes? 

Pense nisso. Afinal, pode existir alguma justiça em algo que Rede Globo e CBF decidam sozinhas?

J.Mercúrio
Ex-colorado, mas ainda um amante do futebol.